1- Prof.
Clayton-Professor Joao, fico feliz por participar e abrir o tema “Momentos
pedagógicos do blog do prof. Clayton”, que sem duvida será de grande valia,
gostaria que falasse do seu trabalho, experiência e formação:
Prof. Joao Carvalho
Neto- Em primeiro lugar quero agradecer seu convite e a oportunidade de
estar aqui compartilhando algumas reflexões com nossos amigos leitores. Minha
formação vem da área pedagógica e acabou se derivando para a área psicológica
quando fiz a pós-graduação em Psicopedagogia. Na sequência fiz uma formação em
Psicanálise, Terapia Floral e em Terapia Regressiva. Depois escrevi dois livros
e fiz o mestrado em Psicanálise com tese sobre o tema “O Complexo de Édipo na
contemporaneidade”. No meu site vocês podem encontrar mais dados sobre minha
formação e minha produção. Hoje dirijo o Espaço Terapêutico “Elaboração
Terapias e Cursos” em Saquarema, onde trabalho com a clínica em Psicanálise
Transpessoal.
2- Prof.
Clayton- O que e bullyng?
Prof. Joao Carvalho
Neto- Bullyng é uma palavra inglesa para definir uma
situação de violência que já existe há muito tempo, sem nunca ter sido diagnosticada
como tal. Na verdade nunca se viu tantas formulações de novos transtornos
psicológicos como agora. Para um Psicanalista isso é muito burocrático e
limitante para a subjetividade humana. Mas, como dizia, o Bullyng define o uso
de um pretenso poder de uma pessoa ou grupo de pessoas sobre outras pessoas,
através de atos de
violência física ou psicológica,
intencionais e repetidos, causando dor e angústia, sendo executadas dentro de
uma relação desigual de força.
3- Prof.
Clayton- Existem causas ou motivos para que o bullyng aconteça nas escolas?
Prof. Joao Carvalho
Neto- Vivemos em uma sociedade altamente competitiva e doentia por conta
disso. As pessoas acabam sendo induzidas a tentar desvalorizar o outro no
intuito de se autopromover, porque diminuindo o outro você aparece mais. Além
disso, a agressividade, fruto de um desconforto pelas frustrações do cotidiano,
também surge como elemento significativo nesta sociedade. Juntando isso às
predisposições psicológicas naturais da criança e do adolescente, você tem um
clima muito favorável à descarga dessas frustrações em alguém que esteja ao seu
lado e mais vulnerável emocional e fisicamente. A criança e o adolescente ainda
têm poucas noções de respeito pelo semelhante, principalmente quando esse mesmo
adolescente se vê desrespeitado por uma sociedade que, muitas vezes, lhe nega
direitos que concede a outros. As injustiças sociais são causa de revolta e
potencialização da agressividade. Então, tudo isso se junto nesta faixa etária
dentro de um mesmo ambiente, com muitos jovens convivendo em espaços limitados,
e o resultado não poderia ser outro. Na verdade, a causa do bullyng não está na
escola, mas a escola está despreparada e desatenta para lidar com ele. Claro
que não posso deixar de considerar que alguns professores instáveis
emocionalmente também discriminam alunos em sala de aula, caracterizando uma
ação de bullyng. Mas vamos considerar isso como exceções.
4- Prof.
Clayton- Sabemos que o bullyng sempre existiu, claro que tempos atrás nosso
tempo ne professor rsr não tinha este
nome, hoje ele e bem falado na mídia, outros meios de comunicação, já e tratado
com mais atenção, na sua visão uma pessoa que sofre bullyng precisa de ajuda?
Ou cada caso um caso?
Prof. Joao Carvalho
Neto- Todas as pessoas que sofrem bullyng precisam de ajuda. Estávamos
falando mais sobre as crianças e jovens, mas ele acontece mesmo na idade
adulta, apesar de ser com menos frequência. Mas não é somente a pessoa que
sofre bullyng que precisa de ajuda mas também aquele que exerce a pressão
discriminatória contra o vitimizado. Eu diria mesmo que, antes de o bullyng se
efetivar como um fato, o vitimizado e o agressor já existiam em estado
potencial. Por isso, ambos precisam ser tratados.
5- Prof.
Clayton- Existem algumas medidas preventivas que os professores,
família, Diretores ou coordenadores
possam tomar para que seja evitado o bullyng?
Prof. Joao Carvalho
Neto- Certamente que sim. O primeiro passo é estar atento às mudanças de
comportamento da criança ou jovem, principalmente quando ele passa a se isolar,
a não querer mais ir para a escola, muitas vezes numa resistência desesperada
para fugir do ambiente agressor. Os pais precisam observar, conversar,
pesquisar sobre a vida dos filhos e, para isso, é preciso tempo e amor para
esta atenção. As escolas devem manter permanentemente projetos sobre respeito
às diferenças e boa convivência. O trabalho da Orientação Educacional deve ser
efetivo e não fictício como costuma acontecer. As orientadoras educacionais,
muitas vezes, acabam exercendo outras tarefas que não as suas, por falta de
funcionários, ou ainda têm dificuldades pelo excesso de alunos que precisam
trabalhar. A escola ainda tem, em diversas situações, um papel muito
burocrático de instruir, sem se levar em conta as questões afetivas que, na
verdade, permeiam o próprio processo da aprendizagem. Então, esse ambiente frio
e distante também se torna mais predisponente à ocorrência do bullyng.
6- Prof.
Clayton- No Brasil existem muitas incidências de bullyng?
Prof. Joao Carvalho
Neto- Eu, na verdade, não tenho conhecimento de alguma pesquisa sobre o
assunto, mas não tenho dúvida em afirmar que a incidência é grande, não só pela
minha experiência clínica onde ele aparece com frequência – tanto como queixa
direta quanto como queixa indireta – mas porque nosso sistema social e
educacional favorece essa incidência. Eu te digo que cerca de 50% dos pacientes
que me procuram hoje com algum tipo de transtorno psicológico, durante a
anamnese narram que sofreram algum tipo de discriminação quando crianças na
escola.
7- Prof.
Clayton- Professor gostaria de agradecer sua participação, fico honrado com
sua contribuição, tenho certeza que ajudou muito as pessoas que acessam o blog,
gostaria que deixasse seu recado, uma mensagem a todas as pessoas que estão
visualizando esta entrevista sobre o tema que foi abordado hoje, dicas a todos
os alunos, professores e gestores escolares sobre o tema.
Prof. Joao Carvalho
Neto. Eu quero agradecer mais uma vez esta oportunidade e dizer que a
solução para este e tantos outros males que invadem nossas vidas está na falta
de empatia, de sensibilidade ao sentimento do outro. Quando conseguirmos viver
num mundo onde as pessoas se preocupem com seus semelhantes, onde sintam
respeito pelo outro e estejam mais comprometidas com o bem estar comum, grande
parte de nossos sofrimentos deixarão de existir. O pior, ou talvez seja o
melhor, é que isso parece muito fácil de ser conseguido, já que todos se
beneficiariam, mas ainda nos parece muito distante, talvez pelo egoísmo
exacerbado que ainda trazemos e que permeia nossa sociedade e nossas
relações.