Educação, O Que eu Tenho a Ver com Isso?
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Maristela Montanheiro de Paula, Bacharelanda em Pedagogia pela Universidade Metodista, SP
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O neoliberalismo1 surgiu como uma proposta de desvinculação do Estado demasiadamente intervencionista e de bem-estar, objetivando negar as teorias do liberalismo clássico e construir uma base capitalista mais sólida, dura e livre de regras para o futuro. No entanto, este movimento provocou muita polêmica nos grupos intelectuais da época, como por exemplo Hayek e seus companheiros que combatiam o keynesianismo e o solidarismo reinantes; alertavam sobre a ameaça do poder destruidor da liberdade dos cidadãos, bem como da concorrência (base fundamental para a prosperidade destes cidadãos), caso o Estado fizesse qualquer tipo de regulação do mercado. O argumento que sustentavam era que a desigualdade e não o pseudo igualitarismo, era um valor positivo.
Após a profunda recessão ocorrida em 1973, as idéias neoliberais passaram a se fortalecer, sendo mais evidentes na Europa e Estados Unidos, espalhando-se pelo mundo, atingindo a sua plenitude nos anos 80. Na realidade, foram aproximadamente 35 anos de transição entre o modelo econômico baseado no liberalismo clássico e a distinta ideologia neoliberal.
Conforme o estudo de ANDERSON, em sua palestra “Balanço do Neoliberalismo”, as principais características deste novo modelo econômico são: circulação de bens e capitais, elevação das taxas de juros, corte com gastos sociais, privatização, abolição da greve, redução de impostos sobre rendimentos altos, altos níveis de desemprego, etc.
A implantação deste modelo teve resultados praticamente incontrastados, apesar das perceptíveis diferenças políticas e sócio-democráticas existentes entre os países. Este modelo levou à formação dos blocos econômicos, hoje liderados pelo que é conhecido como a TRÍADE2 de mercados; no continente americano, os Estados Unidos; na Europa, a União Européia e no Cinturão Asiático, o Japão. Isso mostra que este foi um movimento ideológico de escalas verdadeiramente mundiais.
A educação, em nenhum momento, esteve imune a estas transformações. O que não se tem tolerado, desde então, é a indiferença frente a tantas questões novas vividas pela sociedade neoliberal e que devem ser discutidas, refletidas, questionadas pelo educador a tal ponto que um posicionamento seja tomado e produza, a partir deste, novas hipóteses de soluções para o descaso com a educação no Brasil.
O neoliberalismo trouxe um rápido progresso; este progresso redundou na globalização, que por sua vez prega a homogeinidade setorial, onde se inclui a educação. Mas, como compatibilizar a práxis educacional onde há desemprego estrutural, causado pelo avanço tecnológico, fruto do modelo supracitado? De acordo com RIFKIN(1995), a substituição do homem por máquinas inteligentes, e a vulgarização das informações através da rede mundial ( internet ) têm trazido complicações sem precedentes no campo educacional.
Trazer de volta o senso crítico, o “gosto” pela pesquisa e leitura e a formação dos valores éticos aos educandos, em meio a esta mudança turbulenta e irreversível, demanda resgatar a confiança e dignidade do educador, papel reservado ao Estado, que por sua tradição soberana deve viabilizar todo e qualquer projeto que possa favorecer tal ambiente de aprendizagem, independente de suas limitações financeiras.
As profundas desigualdades sócio-econômicas, promovidas em certa medida pelo modelo neoliberalista ou pós-neoliberalista, como pode ser interpretado, faz estabelecer uma nova reflexão sobre até que ponto os avanços, sobretudo tecnológicos, colaboram para que a educação em países emergentes, como o Brasil, alcancem estágios e níveis primeiro-mundistas.
Embora se tenha que remar contra a maré no grande oceano multicultural, com águas tão turvas e heterogêneas – e pode-se até dizer que os emergentes estão na parte mais suja e turbulenta deste oceano – como profissionais da educação se faz necessário a constante preocupação com a reformulação das idéias, atualização das informações, fortalecimento do elo teoria-prática e consciência de que o educador deve estar comprometido com a formação de cidadãos altruístas, com senso crítico refinado e capazes de refletir sobre o mundo e as questões que o envolve.
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