Disciplina para romper o determinismo
O adolescente que começou a trabalhar com o pai aos 14 anos numa pequena empresa que prestava serviços na área de telefonia e internet conciliava a necessidade de trabalhar, com a falta de tempo para se atualizar. Dejanir estudava na hora do almoço e nos longos períodos que passava em trens e ônibus entre sua casa, em Mauá, o trabalho em São Paulo, e o campus da USP no bairro do Butantã, na capital paulista. “Era difícil conciliar tudo”, diz.
Foto: Greg Salibian/iG
Após tirar zero em matemática, no fim do ensino médio, Dejanir Silva fazia exercícios de reforço com o método japonês Kumon para atingir seu objetivo
No início da graduação surgiu um desafio a mais na rotina já apertada de trabalho e estudos. “No segundo semestre da faculdade recebemos uma lista com livros em inglês e fiquei em pânico porque não sabia absolutamente nada", afirma. "Logo em seguida, as editoras lançaram algumas das obras em português, para meu alívio.” Dejanir, no entanto, preferiu não contar com o destino para sempre. “Sabia que a sorte não se repetiria e comecei a estudar inglês por conta própria", afirma. "Lia livros emprestados e comprados em sebos. Entrava em sites de universidades americanas, como Yale, e baixava as aulas e palestras em inglês no computador. Fui lendo, ouvindo, treinando e aprendendo.”
Após concluir a graduação e o mestrado, Dejanir se inscreveu em 14 instituições no exterior para tentar fazer um doutorado em economia e foi aprovado em nove. Para escolher a melhor, Dejanir recebeu uma ajuda de custo e, em sua primeira viagem ao exterior, visitou as universidades de Harvard, Stanford e o MIT. Mesmo tendo sido cortejado pelas demais instituições onde havia obtido aprovação, acabou optando pela última. “Levei muito em consideração a proposta de pesquisa e estudo e os meus interesses”, diz. “O MIT atualmente é o melhor lugar no mundo para estudar e desenvolver trabalhos na área de Macroeconomia. Me senti à vontade naquele espaço onde terei condições para desenvolver um bom trabalho.”
Avanços sociais
Na avaliação do pesquisador Carlos Costa Ribeiro, um dos coordenadores do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Iesp/Uerj), instituição que dá continuidade aos trabalhos do antigo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), nos dez anos em que Dejanir viveu uma profunda transformação em sua vida, o País também mudou. “Houve um conjunto de mudanças, mas a educação é um dos atores principais dessa transformação”, diz.
Segundo Ribeiro, a posição social dos pais determina de forma muito forte a posição que os filhos terão na sociedade. Mas essa relação vem diminuindo. Dados da pesquisa “A Dimensão Social das Desigualdades”, da qual Ribeiro é um dos coordenadores, mostram que em 1973 filhos de profissionais com mais qualificação tinham 15,6 vezes mais chances de se tornar profissionais qualificados do que filhos de trabalhadores menos qualificados tinham de se tornar profissionais com boa educação e qualificação. Em 2008, essa proporção diminuiu para 9,6 vezes mais chances. “Ainda não é o ideal, mas representa uma mudança significativa na medida de desigualdade de oportunidades”, diz.
Desigualdade de oportunidade
Chances que um filho de profissional mais qualificado tem de se tornar também um profissional qualificado em comparação com um filho de trabalhador com pouca qualificação
Fonte: Pesquisa "A Dimensão Social das Desigualdades"
Os dados da pesquisa mostram ainda os ganhos na mobilidade social da população. O índice de mobilidade intergeracional total, que mede o percentual de pessoas em uma classe de destino diferente da sua classe de origem, era de 51,8% da população economicamente ativa em 1973 e saltou para 67,8% em 2008.
Luciana Aguiar, antropóloga e diretora executiva da consultoria Plano CDE, especializada na análise do cenário social das classes menos favorecidas, afirma que fatores como a recuperação do salário mínimo acima da inflação e os efeitos do bônus demográfico, como a redução da taxa de natalidade, ampliam o potencial de renda para o consumo, com uma maior parte do orçamento das famílias sendo direcionada para o consumo de alguns serviços, como a educação.
“Os segmentos mais jovens estão mais escolarizados. Na classe C, os jovens com 25 anos têm cerca de 3,4 anos a mais de estudo do que as pessoas com 50 anos”, destaca Luciana. “Na classe A, para a mesma base de comparação, a diferença é de apenas 1 ano. Melhorou o acesso nas classes mais baixas e foi ampliado o tempo de permanência na escola. Mais tempo na escola melhora a inserção no mercado de trabalho”, diz.
Foto: Greg Salibian/iG Ampliar
Dejanir Silva: “Acreditei no papel transformador que a educação tem e fiz disso um objetivo de vida”
Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), em 2009, pela primeira vez a massa de renda da classe C, os que têm entre R$ 1.200 e R$ 3.000 de renda familiar, atingiu 31%. Em 1995, esse percentual era de 26%. No mesmo período, a classe A caiu de 36% para 30%, a classe B foi de 22% para 23%, a D de 11% para 12% da massa salarial e a E foi de 5% para 4%.
Vida nova
Dejanir vai morar com a mulher, Luciene, em Boston, em um apartamento do próprio MIT, em frente ao prédio do departamento de economia, com aluguel subsidiado e terá direito a uma bolsa anual de US$ 37 mil (cerca de R$ 58 mil) oferecida pela universidade.
“O que está acontecendo comigo era uma realidade muito distante, quase impossível de acontecer, tanto que foi difícil de explicar isso para a família e os amigos", diz Dejanir. "É difícil para eles entender a dimensão da coisa e como isso ocorreu com uma pessoa que teve uma realidade mais humilde.” Na hora de tirar o visto no consulado, o pai de Dejanir fez questão de acompanhá-lo e contar para todo mundo que encontrava - do balconista do bar ao segurança da fila - que o filho dele ia estudar no MIT, mesmo não sabendo explicar muito bem o que é o instituto.
Ele a mulher Luciene, pedagoga de 28 anos, também de origem humilde e que concluiu o ensino superior graças a uma bolsa de estudos integral do Programa Universidade para Todos (Prouni), do Governo Federal, também sonham em ter filhos.
Para ele, após quebrar o círculo vicioso da sociedade, o caminho para atingir uma melhor condição social pode ser mais fácil para seus futuros herdeiros. “Acreditei no papel transformador que a educação tem e fiz disso um objetivo de vida”, afirma. “Quando tiver meus filhos quero ensinar a eles os valores que aprendi e preservei ao longo de todo este processo, ressaltando que a disciplina e força de vontade é fundamental para se atingir os objetivos na vida.”
http://economia.ig.com.br/do+ensino+publico+na+periferia+a+disputa+por+harvard+yale+e+mit/n1597058594479.html
Assuntos acadêmicos, concursos, entretenimento,vestibulares, comportamento, dúvidas sobre educação e motivação no trabalho, palestras e artigos sobre inteligencia emocional, superação e qualidade de vida. Artigos e assuntos que não são do Prof Clayton, são responsabilidade dos autores e idealizadores. O blog é apenas o intermediário, vale só como sugestão! O blog não tem objetivo financeiro, apenas informativo. E Na defesa dos pobres animais e ação social.
continuação deste grande exemplo a ser seguido.
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